A uma semana dos desfiles, baianas e grupos religiosos comandam limpeza espiritual da Sapucaí para abrir os caminhos do Carnaval
Tradição pré-Carnaval que reúne milhares de foliões a uma semana dos desfiles, a Lavagem da Passarela do Samba será realizada no sábado, dia 3 de fevereiro, a partir das 19h, em evento que dá início ao encerramento dos ensaios técnicos gratuitos na Marquês de Sapucaí. Gesto simbólico que prepara espiritualmente o terreno para a folia, a lavagem abre o penúltimo dia de ensaios, e antecede a passagem de som e de luz do teste protagonizado pela agremiação campeã do último Carnaval, a Imperatriz Leopoldinense, no encerramento dos testes, no domingo, dia 4.
Com o objetivo de abençoar a festa, o rito ecumênico da Lavagem reúne crianças das escolas-mirins, mestres sala e porta-bandeiras de todas as agremiações, integrantes das velhas guardas, dos Afoxés Filhos de Gandhi, católicos, umbandistas e candomblecistas, entre outros grupos religiosos e carnavalescos.
Ao som de atabaques, pontos de roda e cânticos do candomblé, o ritual de reza, dança e canto nascido no interior dos terreiros ganha a Marquês de Sapucaí perfumado pelas ervas, água de cheiro e defumador para espantar o mau agouro.
“É indescritível. Uma festa única e emocionante, a celebração de axé para limpar a Avenida da negatividade”, conta Tia Nilda, coordenadora da Ala das baianas da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Com água benta, ervas, cânticos e danças, uma legião de baianas vestidas de branco, ao lado de representantes de religiões de matriz africana, promove a lavagem simbólica da Passarela do Samba. No setor 1, reunidas para louvar o sagrado, trazer bons fluidos e espalhar boas energias, as baianas comandam o cortejo, que começa com a água de cheiro e as ervas de Dona Maria Moura, da Imperatriz Leopoldinense, e termina com o turíbulo que defuma a Avenida, rito do grupo que tem à frente Tia Nilda:
“ Ogãs com os atabaques, mães de santo, representantes de cada orixá, todos vêm com as suas rezas, cantos e danças. Tem representante das alas de baianas de todas as escolas, cada uma com uma erva. Umas vêm com a espada-de-São-Jorge, outras com arruda, aroeira, alecrim, peregum, comigo-ninguém-pode, guiné, flores. Cada grupo carrega uma coisa. É um ritual muito bonito e sagrado”, emociona-se Tia Nilda, que é baiana da Mocidade desde 1979.
Liberada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, a imagem de São Sebastião sobre o andor dá o tom ecumênico da Lavagem da Avenida, assim como a bênção que dá início ao evento, logo após a reunião das baianas em roda, sempre feita por um padre católico. O rito, que acontecia esporadicamente, passou a ser feito todo ano pela Liesa a partir de 2011, reunindo lideranças de diversos grupos religiosos.
A lavagem do Sambódromo está agendada para 19h deste sábado, dia 3, seguida pelos ensaios técnicos da Beija-Flor, às 20h30, e da Vila Isabel, às 22h. No domingo, ensaiam a Viradouro, às 20h30, e a atual campeã, Imperatriz Leopoldinense, a partir das 22h.